1.2. Fontes Para o Conhecimento da
Gnose e o Gnosticismo Antigo
Boa
parte da literatura gnóstica do século I ao IV se perdeu, as poucas fontes que
existem são divididas em diretas e indiretas. As diretas chegaram até nós sem a
intermediação de autores gnósticos, o bloco de textos da biblioteca de Nag
Hammadi é o núcleo principal dessas fontes. A Biblioteca de Nag-Hammadi. Foi encontrada dentro de uma urna de
argila em 1945 pelos irmãos Califa e Muhamad Ali al Salman, a 11 quilômetros da
cidade de Nag-Hammadi, em Jabal (montanha) al-Taarif, que tem mais de 150
cavernas. Essa biblioteca compõe-se de quase 60 textos,
encadernados em couro, em 13 livros de papiro, procedentes de várias fontes:
revelações de profetas da gnose anteriores ao cristianismo; escritos gnósticos
contendo alguns elementos cristãos; escritos do cristianismo gnóstico; tratados
relativos à alquimia.
Outras
fontes diretas são os tratados gnósticos como, Pistis Sophia, o livro de Jeú,
que foram descobertos em locais perto de Nag Hammadi. Existem também fragmentos
de autores que se consideravam gnósticos como Basílides, Valentim, Heracleón,
Teodoro e alguns outros transmitidos como citações por escritores eclesiásticos
como Clemente de Alexandria e Orígenes. Por último pode se considerar como
literatura gnóstica direta os escritos religioso-teológicos do Corpus
Hermeticum. As fontes indiretas são o resumo de idéias, doutrinas do sistema
gnóstico conservador pelos pais da Igreja entre eles Irineu de Lyon e Hipólito
de Roma no século II e III e no século IV Epifanio de Salamina.
lí� e (o� ௷ o substantivo gnose necessita de um genitivo que o precedo ou
caracterize. Nos textos mais explícitos que falam de gnose no período
helenístico o genitivo pode se Deus sua profundidade ou os seus segredos
divinos. No marco da historia das religiões entende-se por gnose o conhecimento
de algo divino que transcende toda a fé, uma ciência imediata e absoluta da
divindade que se considera como a verdade absoluta. O termo esta ligado ao
vocábulo gnostikós (gnóstico), que significa conhecedor ou iniciado. Na língua
grega anterior ao período imperial esse adjetivo significava algo que leva ou
conduz ao conhecimento, algo que serve para alcançar a sabedoria, geralmente
aplicado a uma disciplina ou faculdade humana. Posteriormente passaram a se
denominavam gnóstico indivíduos que se diziam possuidores da gnose.
O
termo gnosticismo é moderno foi cunhado no século XVIII e faz referencia a um
conjunto de sistemas gnósticos cristãos desenvolvidos no século I e II d.C.
Dentro da historia das religiões não existe nenhuma religião que possua
testemunhos literários para denominar-se simplesmente gnose. O vocábulo
expressa um conjunto de idéias e concepções religiosas que mantém entre si
certa coerência e que ao mostrarem-se juntos aparecem como elementos
construtivo de certas religiões específicas do mundo antigo. S que podemos denominas
mais ou menos gnósticas ou gnosticizantes. Para definir gnose precisar o
vocábulo a seu utilizado no texto pode-se partir de dois pontos: o doutrinal e
o sociológico.
Do
ponto de vista sociológico podemos descrever como gnose ou gnósticos dentro de
uma sociedade ampla como um grupo elitista minoritário que se distingue por
possuir um conhecimento superior sobre conteúdos religiosos exclusivos. A gnose
então seria esse conhecimento religioso especial reservado a essa elite.
Geralmente essa ciência é recebida por uma revelação especifica outorgada por
uma divindade ao chefe do grupo, através de um sistema de normas de
interpretação de certos livros considerados previamente sagrados.
Para
uma compreensão geral da gnose na Antiguidade e especificamente a gnose
encontrada na biblioteca de Nag Hammadi, é preciso situar-se no contexto do
Alto Império Romano onde esses grupos viveram. A sociedade civil onde as elites
minoritárias de caráter religioso viviam desconheciam os livros sagrados. Essa
condição dá lugar a primeira divisão entre os gnósticos de um lado dos
ignorantes e de outro dos conhecedores em geral. Estes
últimos por sua vez dividem-se em dois grupos: os que possuem o conhecimento
ordinário ou superficial profundo dos livros sacros (praticantes de exegese
profunda, espiritual e alegórica). Ninguém além desses gnósticos sabe entender
esses livros sagrados em sua verdadeira honra e riqueza.
Os
pais da Igreja antiga e a historiografia têm utilizado o termo gnose e
gnosticismo para denominar determinados grupos elitistas religiosos, judeus e
cristãos do século I ao IV d.C. Dentro de outros fenômenos históricos de
semelhante estrutura e classificação, a historiografia ocidental chama
gnósticos por antonomásia a gnose judaica, cristã (e pagã) do Alto Império Romano
do século I ao IV d.C. Por isso a partir daqui a referencia sempre será a esse
tipo de gnose e gnosticismo. Pode-se chamá-la de ocidental em oposição ao
oriente menos próximo, como a das Upanishads da Índia.
Em
um colóquio sobre gnose, gnosticismo e sua origens, celebrado em Messina em
1966 se concluiu que o núcleo essencial dessas doutrinas era o seguinte: a
crença da presença de uma centelha no homem proveniente do divino e que neste
mundo foi submetida ao destino, ao nascimento e a morte. Essa centelha divina
deve ser despertada pela contra partida divina do “eu” humano para ser
finalmente reintegrada ao lugar de onde procede.
Segundo os pesquisadores reunidos em
Messina, aqueles que abraçam como conteúdo central de sua doutrina esse
conjunto de idéias podem ser considerados gnósticos. O vocábulo gnose deverá
ser restringido para significar exclusivamente o núcleo doutrinal delimitado,
enquanto que gnosticismo deve reservar-se aos sistemas ou seitas
filosófico-religiosas, quase todas elas cristãs ou judia do século I ao IV d.C
que possuem esse conteúdo doutrinal como base e que se denominam hoje
gnósticos.
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