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terça-feira, 5 de março de 2013

O Conhecimento da Gnose e o Gnosticismo Antigo


1.2. Fontes Para o Conhecimento da Gnose e o Gnosticismo Antigo


            Boa parte da literatura gnóstica do século I ao IV se perdeu, as poucas fontes que existem são divididas em diretas e indiretas. As diretas chegaram até nós sem a intermediação de autores gnósticos, o bloco de textos da biblioteca de Nag Hammadi é o núcleo principal dessas fontes. A Biblioteca de Nag-Hammadi. Foi encontrada dentro de uma urna de argila em 1945 pelos irmãos Califa e Muhamad Ali al Salman, a 11 quilômetros da cidade de Nag-Hammadi, em Jabal (montanha) al-Taarif, que tem mais de 150 cavernas.  Essa biblioteca compõe-se de quase 60 textos, encadernados em couro, em 13 livros de papiro, procedentes de várias fontes: revelações de profetas da gnose anteriores ao cristianismo; escritos gnósticos contendo alguns elementos cristãos; escritos do cristianismo gnóstico; tratados relativos à alquimia.
Outras fontes diretas são os tratados gnósticos como, Pistis Sophia, o livro de Jeú, que foram descobertos em locais perto de Nag Hammadi. Existem também fragmentos de autores que se consideravam gnósticos como Basílides, Valentim, Heracleón, Teodoro e alguns outros transmitidos como citações por escritores eclesiásticos como Clemente de Alexandria e Orígenes. Por último pode se considerar como literatura gnóstica direta os escritos religioso-teológicos do Corpus Hermeticum. As fontes indiretas são o resumo de idéias, doutrinas do sistema gnóstico conservador pelos pais da Igreja entre eles Irineu de Lyon e Hipólito de Roma no século II e III e no século IV Epifanio de Salamina.

lí� e (o� ௷ o substantivo gnose necessita de um genitivo que o precedo ou caracterize. Nos textos mais explícitos que falam de gnose no período helenístico o genitivo pode se Deus sua profundidade ou os seus segredos divinos. No marco da historia das religiões entende-se por gnose o conhecimento de algo divino que transcende toda a fé, uma ciência imediata e absoluta da divindade que se considera como a verdade absoluta. O termo esta ligado ao vocábulo gnostikós (gnóstico), que significa conhecedor ou iniciado. Na língua grega anterior ao período imperial esse adjetivo significava algo que leva ou conduz ao conhecimento, algo que serve para alcançar a sabedoria, geralmente aplicado a uma disciplina ou faculdade humana. Posteriormente passaram a se denominavam gnóstico indivíduos que se diziam possuidores da gnose.
O termo gnosticismo é moderno foi cunhado no século XVIII e faz referencia a um conjunto de sistemas gnósticos cristãos desenvolvidos no século I e II d.C. Dentro da historia das religiões não existe nenhuma religião que possua testemunhos literários para denominar-se simplesmente gnose. O vocábulo expressa um conjunto de idéias e concepções religiosas que mantém entre si certa coerência e que ao mostrarem-se juntos aparecem como elementos construtivo de certas religiões específicas do mundo antigo. S que podemos denominas mais ou menos gnósticas ou gnosticizantes. Para definir gnose precisar o vocábulo a seu utilizado no texto pode-se partir de dois pontos: o doutrinal e o sociológico.
Do ponto de vista sociológico podemos descrever como gnose ou gnósticos dentro de uma sociedade ampla como um grupo elitista minoritário que se distingue por possuir um conhecimento superior sobre conteúdos religiosos exclusivos. A gnose então seria esse conhecimento religioso especial reservado a essa elite. Geralmente essa ciência é recebida por uma revelação especifica outorgada por uma divindade ao chefe do grupo, através de um sistema de normas de interpretação de certos livros considerados previamente sagrados.
Para uma compreensão geral da gnose na Antiguidade e especificamente a gnose encontrada na biblioteca de Nag Hammadi, é preciso situar-se no contexto do Alto Império Romano onde esses grupos viveram. A sociedade civil onde as elites minoritárias de caráter religioso viviam desconheciam os livros sagrados. Essa condição dá lugar a primeira divisão entre os gnósticos de um lado dos ignorantes e de outro dos conhecedores em geral. Estes últimos por sua vez dividem-se em dois grupos: os que possuem o conhecimento ordinário ou superficial profundo dos livros sacros (praticantes de exegese profunda, espiritual e alegórica). Ninguém além desses gnósticos sabe entender esses livros sagrados em sua verdadeira honra e riqueza.
Os pais da Igreja antiga e a historiografia têm utilizado o termo gnose e gnosticismo para denominar determinados grupos elitistas religiosos, judeus e cristãos do século I ao IV d.C. Dentro de outros fenômenos históricos de semelhante estrutura e classificação, a historiografia ocidental chama gnósticos por antonomásia a gnose judaica, cristã (e pagã) do Alto Império Romano do século I ao IV d.C. Por isso a partir daqui a referencia sempre será a esse tipo de gnose e gnosticismo. Pode-se chamá-la de ocidental em oposição ao oriente menos próximo, como a das Upanishads da Índia.
Em um colóquio sobre gnose, gnosticismo e sua origens, celebrado em Messina em 1966 se concluiu que o núcleo essencial dessas doutrinas era o seguinte: a crença da presença de uma centelha no homem proveniente do divino e que neste mundo foi submetida ao destino, ao nascimento e a morte. Essa centelha divina deve ser despertada pela contra partida divina do “eu” humano para ser finalmente reintegrada ao lugar de onde procede.
            Segundo os pesquisadores reunidos em Messina, aqueles que abraçam como conteúdo central de sua doutrina esse conjunto de idéias podem ser considerados gnósticos. O vocábulo gnose deverá ser restringido para significar exclusivamente o núcleo doutrinal delimitado, enquanto que gnosticismo deve reservar-se aos sistemas ou seitas filosófico-religiosas, quase todas elas cristãs ou judia do século I ao IV d.C que possuem esse conteúdo doutrinal como base e que se denominam hoje gnósticos.

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